A dor é momentânea, costumo dizer: morre-se somente uma vez, as outras mortes se dão através da mídia, de fotos e da repetição incansável do momento da morte. Já a cicatriz nos acompanha diariamente, é a lembrança que algo dolorido aconteceu e marcou, vira um estigma pessoal e social(se for aparente). Quando alguma tragédia se abate sobre a gente é, talvez, mais assustador ver os olhares de pavor e pena direcionados para nós, do que a dor em si. Leva-nos a pensar: devo estar morrendo mesmo, tal o desespero alheio a respeito de algo que não devo estar enxergando ou sentindo. Mas a cicatriz mostra apenas o que nao conseguimos conceber no dia-a-dia, que nunca seremos iguais ao dia de ontem, que a cada momento que passa ocorrem várias transformações que nos modificam. E o sangue que escorre? É quente, visceral e alentador, mostrando que ainda pulsamos. Um tempo atrás tive um grande evento médico, quase morri, entrei em choque, foi punk e no pronto socorro tive que fazer uma flebo-procedimento de pinçamento de uma veia do braço de maior calibre para conseguir aplicar fluidos, no meu caso, cinco bolsas de sangue. Nas visitas ao médico sempre falava da cicatriz da flebo e o médico me disse: sabe, passaste por um procedimento traumático, mas parece que só te importas com a cicatriz da flebo. Bem era verdade, foi muito impactante até porque foi feita sem anestesia. Essa foto é o resultado da brincadeira de polícia e ladrão , onde o esconderijo era num terreno de areia cercado por arame farpado, era de noite, a 25km do hospital e eu tinha 7 anos. Dizem que um cachorro comeu o "bife", foi o pior verão da minha vida , levei 30 pontos. No Cassino, Rio Grande - RS.
quinta-feira, 5 de junho de 2014
quarta-feira, 4 de junho de 2014
Por que escrever?
Quando pensei em escrever um blog, que estava longe de tudo que eu esperava fazer...tenho que levar em consideração que estava lavando louça, um dos piores pesadelos de quem tem uma família, mas uma ótima oportunidade de flutuar nos próprios pensamentos. Nunca gostei de lavar louça, um dia minha sogra me disse: alcançarás a santidade lavando louça, achei que o que foi dito além de provocação, era meio piegas; mas vejo que a sabedoria que só vem com a idade estava mais uma vez certa. Seja pelo desprendimento do ato em si, conseguir transpor a negação de uma pia cheia e a inevitabilidade de coisas que temos que fazer, mesmo que nunca tenhamos imaginado ou projetado no filme de uma vida senão perfeita, normal. Inevitável escrever, se expressar, pungente e urgente, a rima perfeita para o dia-a-dia, que nos faz flutuar por lugares desconhecidos e é isso que é legal e motivante. Minha filha mais nova disse: escrever sobre o quê mãe? Maquiagem, tutorial de alguma coisa? ( Ela tem 11 anos) E respondi: umas idéias.Idéias que ela não sabe que tenho, mas talvez entenda, pois é uma leitora voraz e já se aventurou pela escrita também. Ela resolveu deixar para lá...então, antes de escrever a primeira linha fui desacreditada, acho que isso é normal, mas me deu um impulso maior, então o título do blog passou a não sair da minha cabeça: SANGUE, SUOR E CERVEJA, e comecei a fazer conexões diárias com as palavras, por exemplo: sangue ligado a minha feminilidade, hereditariedade, tpm, vida, dor... Suor com o trabalho duro que a gente tem que dar para fazer algo e como suo à toa, qualquer esforço corporal que faço, lá vem ele, brotando quente, o suor. E a cerveja, representa o prazer, o deixar para lá, a leveza, o desprendimento e a necessidade de se dar um tempo, eventualmente ou diariamente. Espero conseguir passar para o blog como essas conexões fazem sentido para mim e parar um pouco de pensar nisso exorcizando nessas letrinhas minhas experiências, um beijinho e deixe seu comentário, por favor.
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