A dor é momentânea, costumo dizer: morre-se somente uma vez, as outras mortes se dão através da mídia, de fotos e da repetição incansável do momento da morte. Já a cicatriz nos acompanha diariamente, é a lembrança que algo dolorido aconteceu e marcou, vira um estigma pessoal e social(se for aparente). Quando alguma tragédia se abate sobre a gente é, talvez, mais assustador ver os olhares de pavor e pena direcionados para nós, do que a dor em si. Leva-nos a pensar: devo estar morrendo mesmo, tal o desespero alheio a respeito de algo que não devo estar enxergando ou sentindo. Mas a cicatriz mostra apenas o que nao conseguimos conceber no dia-a-dia, que nunca seremos iguais ao dia de ontem, que a cada momento que passa ocorrem várias transformações que nos modificam. E o sangue que escorre? É quente, visceral e alentador, mostrando que ainda pulsamos. Um tempo atrás tive um grande evento médico, quase morri, entrei em choque, foi punk e no pronto socorro tive que fazer uma flebo-procedimento de pinçamento de uma veia do braço de maior calibre para conseguir aplicar fluidos, no meu caso, cinco bolsas de sangue. Nas visitas ao médico sempre falava da cicatriz da flebo e o médico me disse: sabe, passaste por um procedimento traumático, mas parece que só te importas com a cicatriz da flebo. Bem era verdade, foi muito impactante até porque foi feita sem anestesia. Essa foto é o resultado da brincadeira de polícia e ladrão , onde o esconderijo era num terreno de areia cercado por arame farpado, era de noite, a 25km do hospital e eu tinha 7 anos. Dizem que um cachorro comeu o "bife", foi o pior verão da minha vida , levei 30 pontos. No Cassino, Rio Grande - RS.
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